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    supostamente, ela escreve

    Esse blog foi criado para que eu, Natália Oliveira, tivesse um espaço na internet para publicar meus textos. A bem da verdade, mais procrastino que escrevo, mas isso não me impede de sonhar acordada com o dia em que conseguirei escrever algo realmente bom. Sou saudosista da época dos blogs pessoais, gosto de histórias (e fofocas) e de jogos casuais. Esse blog já teve vários nomes (natalapses; natália non grata; olive trees, garnets and trains) e escrevo nesse espaço de forma inconstante desde agosto de 2016.

    Se quiser entrar em contato, basta deixar um comentário ou mandar um e-mail para mail.natalialvr@gmail.com.

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    hello

    Há exatos três anos, no dia 24 de agosto de 2016, eu fiz minha primeira publicação no meu antigo blog, o LAPSOS. O fato de essa coincidência não ter sido planejado me deixou reflexiva - ultimamente, eu tenho refletido muito sobre coisas que antes julgava simples, banais e corriqueiras. Eu escrevo em blog desde... desde sempre. Não consigo me lembrar muito bem do ano exato, mas meu primeiro cantinho na internet tinha endereço .zip.net, era hospedado em um host da UOL que não existe mais e, para acessá-lo eu usava meu e-mail @oi.com.br. Minha internet era discada, eu fazia buscas no Cadê (um serviço de busca brasileiro que foi comprado pelo Yahoo!) e meu blog preferido era o Blog da Dê, uma menina que morava em São Paulo e compartilhava prints de jogos de maquiagem. 

    Sempre fico nostálgica quando falo sobre blogs porque eles sempre fizeram parte da minha vida. E junto com eles sempre existiu essa vontade de pertencer a um grupo de pessoas que compartilham a vida na internet. Para o meu azar, participar e pertencer são coisas muito diferentes. Eu sempre participei desse mundo: trocava selos de awards feitos no glitterfy, deixava comentários, escrevia longos textos sobre o quão era difícil ser adolescente, resenhava livros, participava de grupos de blogagem coletiva. Mas eu não pertencia.


    Em meados de 2005, não pertencia porque minha internet não era rápida o suficiente para carregar todos aqueles gifs. Em 2008, porque meu computador não tinha photoshop para fazer layouts com brushes e pngs transparentes. Em 2011, meus dramas adolescentes não eram tão legais quanto os das meninas que saiam escondidas para ir em festas. Em 2013, não tinha visualizações e comentários suficientes para ser digna de nota. Em 2016, meu conteúdo não era autêntico o suficiente para participar da blogosfera old schol.

    Sempre ficava ali, à margem. E, pensando sobre isso agora, percebo que talvez essa seja a razão pela qual eu precise recomeçar de tempos em tempos. Cada uma dessas tendências representa uma oportunidade que tive de me adequar, assim como cada um dos meus blogs representa uma tentativa vã de sentar na mesa dos populares (ou dos desajustados orgulhosos) durante o almoço. Não conseguir alcançar um objetivo pode ser frustrante, mas quando esse objetivo ganha uma conotação subjetiva desproporcional, a coisa extrapola a frustração e se transforma em fracasso.

    E o fracasso... bom, o fracasso fede. E não adianta esfregar. O cheiro dele não sai do seu corpo desse jeito.

    Foto por @fotografierende
    Mas a vida continua, certo?

    Conforme o tempo foi passando, o meu apreço pelo mundo dos blogs e o sonho de ser a nova Agatha Christie se transformaram em objetivos mais concretos - como arrumar um emprego, ganhar um salário, parar de viver as custas dos meus pais e pagar meus boletos. Assim como a Tati e a Manu já pontuaram muito bem (tanto que senti que elas tinham arrancados os sentimentos de dentro de mim e colocado na tela do computador), o fato de eu não ter me enveredado por uma profissão ligada a escrita fez com que minha relação com ela desandasse.

    Como num casamento, a escrita e eu passamos por várias crises. Primeiro, com a falta de tempo e o sentimento de não ser boa o suficiente. Depois, com o mestrado e a imposição da escrita científica - e aí coisa desandou de vez. Passei meses olhando para a tela em branco. Das primeiras três páginas de rascunho do meu projeto de qualificação, apenas dois parágrafos ficaram intocados - não por estarem bem escritos, mas porque minha orientadora não teve tempo para ler tudo. A folha em branco no word (em Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5) não só me encarava, mas me assombrava. O medo me travou. A menina que foi desclassificada da olimpíada de redação por "escrever demais" começou a desconfiar que nunca tinha sido alfabetizada.

    Mas desapegar é difícil. Mesmo com as crises, problemas e traumas, o apego e o amor ainda estão lá. Assim como os noivos jogam os votos um na cara do outro "até que a morte os separe", eu me vejo olhando para a pequena Natália que viveu seus melhores momentos em meio a palavras (lidas e escritas) e não consigo deixá-la para trás. Não consigo dizer para ela que é o fim, que o ensino médio terminou, que a vida adulta exige sacrifícios e que, de qualquer forma, a mesa dos populares era só uma metáfora.

    Ainda sobre metáforas, me vejo como o dilema do porco espinho, de Schopenhauer: ficar perto da escrita me machuca, mas se eu me afastar demais estarei fada à morte. Não literalmente, claro, mas acho que exemplo ilustra bem. Eu preciso escrever. E mesmo que eu nunca consiga pertencer ao mundo dos blogs, a escrita faz com que eu pertença a mim mesma. Não é muito, mas, por hora, é o bastante.

    We live in the shadows and 
    we had the chance and threw it away 
    and it's never going to be the same
    'cause the years are falling by like the rain 
    it's never gonna be the same 
    'til the life I knew comes to my house and says 
    hello
    Há exatos três anos, no dia 24 de agosto de 2016, eu fiz minha primeira publicação no meu antigo blog, o LAPSOS. O fato de essa coincidência não ter sido planejado me deixou reflexiva - ultimamente, eu tenho refletido muito sobre coisas que antes julgava simples, banais e corriqueiras. Eu escrevo em blog desde... desde sempre. Não consigo me lembrar muito bem do ano exato, mas meu primeiro cantinho na internet tinha endereço .zip.net, era hospedado em um host da UOL que não existe mais e, para acessá-lo eu usava meu e-mail @oi.com.br. Minha internet era discada, eu fazia buscas no Cadê (um serviço de busca brasileiro que foi comprado pelo Yahoo!) e meu blog preferido era o Blog da Dê, uma menina que morava em São Paulo e compartilhava prints de jogos de maquiagem. 

    Sempre fico nostálgica quando falo sobre blogs porque eles sempre fizeram parte da minha vida. E junto com eles sempre existiu essa vontade de pertencer a um grupo de pessoas que compartilham a vida na internet. Para o meu azar, participar e pertencer são coisas muito diferentes. Eu sempre participei desse mundo: trocava selos de awards feitos no glitterfy, deixava comentários, escrevia longos textos sobre o quão era difícil ser adolescente, resenhava livros, participava de grupos de blogagem coletiva. Mas eu não pertencia.


    Em meados de 2005, não pertencia porque minha internet não era rápida o suficiente para carregar todos aqueles gifs. Em 2008, porque meu computador não tinha photoshop para fazer layouts com brushes e pngs transparentes. Em 2011, meus dramas adolescentes não eram tão legais quanto os das meninas que saiam escondidas para ir em festas. Em 2013, não tinha visualizações e comentários suficientes para ser digna de nota. Em 2016, meu conteúdo não era autêntico o suficiente para participar da blogosfera old schol.

    Sempre ficava ali, à margem. E, pensando sobre isso agora, percebo que talvez essa seja a razão pela qual eu precise recomeçar de tempos em tempos. Cada uma dessas tendências representa uma oportunidade que tive de me adequar, assim como cada um dos meus blogs representa uma tentativa vã de sentar na mesa dos populares (ou dos desajustados orgulhosos) durante o almoço. Não conseguir alcançar um objetivo pode ser frustrante, mas quando esse objetivo ganha uma conotação subjetiva desproporcional, a coisa extrapola a frustração e se transforma em fracasso.

    E o fracasso... bom, o fracasso fede. E não adianta esfregar. O cheiro dele não sai do seu corpo desse jeito.

    Foto por @fotografierende
    Mas a vida continua, certo?

    Conforme o tempo foi passando, o meu apreço pelo mundo dos blogs e o sonho de ser a nova Agatha Christie se transformaram em objetivos mais concretos - como arrumar um emprego, ganhar um salário, parar de viver as custas dos meus pais e pagar meus boletos. Assim como a Tati e a Manu já pontuaram muito bem (tanto que senti que elas tinham arrancados os sentimentos de dentro de mim e colocado na tela do computador), o fato de eu não ter me enveredado por uma profissão ligada a escrita fez com que minha relação com ela desandasse.

    Como num casamento, a escrita e eu passamos por várias crises. Primeiro, com a falta de tempo e o sentimento de não ser boa o suficiente. Depois, com o mestrado e a imposição da escrita científica - e aí coisa desandou de vez. Passei meses olhando para a tela em branco. Das primeiras três páginas de rascunho do meu projeto de qualificação, apenas dois parágrafos ficaram intocados - não por estarem bem escritos, mas porque minha orientadora não teve tempo para ler tudo. A folha em branco no word (em Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5) não só me encarava, mas me assombrava. O medo me travou. A menina que foi desclassificada da olimpíada de redação por "escrever demais" começou a desconfiar que nunca tinha sido alfabetizada.

    Mas desapegar é difícil. Mesmo com as crises, problemas e traumas, o apego e o amor ainda estão lá. Assim como os noivos jogam os votos um na cara do outro "até que a morte os separe", eu me vejo olhando para a pequena Natália que viveu seus melhores momentos em meio a palavras (lidas e escritas) e não consigo deixá-la para trás. Não consigo dizer para ela que é o fim, que o ensino médio terminou, que a vida adulta exige sacrifícios e que, de qualquer forma, a mesa dos populares era só uma metáfora.

    Ainda sobre metáforas, me vejo como o dilema do porco espinho, de Schopenhauer: ficar perto da escrita me machuca, mas se eu me afastar demais estarei fada à morte. Não literalmente, claro, mas acho que exemplo ilustra bem. Eu preciso escrever. E mesmo que eu nunca consiga pertencer ao mundo dos blogs, a escrita faz com que eu pertença a mim mesma. Não é muito, mas, por hora, é o bastante.

    We live in the shadows and 
    we had the chance and threw it away 
    and it's never going to be the same
    'cause the years are falling by like the rain 
    it's never gonna be the same 
    'til the life I knew comes to my house and says 
    hello
    . 13 agosto 2019 .

    5 comentários

    1. Honrada por ser citada no seu primeiro post <3
      E entre idas e vindas, bem vinda de volta. Tô sempre aqui por você!

      Limonada

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    2. Nossa, eu li esse texto e me vi nele todinha. A minha "desculpa" sempre foi que eu escrevia para mim, e que não me importava com comentários, leitores ou qualquer coisa do tipo.
      Eu estou tentando decidir para que lado correr nessa história de escrita e blog.
      Boa sorte para nós desajustados orgulhosos rs

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