Há exatos três anos, no dia 24 de agosto de 2016, eu fiz minha primeira publicação no meu antigo blog, o LAPSOS. O fato de essa coincidência não ter sido planejado me deixou reflexiva - ultimamente, eu tenho refletido muito sobre coisas que antes julgava simples, banais e corriqueiras. Eu escrevo em blog desde... desde sempre. Não consigo me lembrar muito bem do ano exato, mas meu primeiro cantinho na internet tinha endereço .zip.net, era hospedado em um host da UOL que não existe mais e, para acessá-lo eu usava meu e-mail @oi.com.br. Minha internet era discada, eu fazia buscas no Cadê (um serviço de busca brasileiro que foi comprado pelo Yahoo!) e meu blog preferido era o Blog da Dê, uma menina que morava em São Paulo e compartilhava prints de jogos de maquiagem.
Sempre fico nostálgica quando falo sobre blogs porque eles sempre fizeram parte da minha vida. E junto com eles sempre existiu essa vontade de pertencer a um grupo de pessoas que compartilham a vida na internet. Para o meu azar, participar e pertencer são coisas muito diferentes. Eu sempre participei desse mundo: trocava selos de awards feitos no glitterfy, deixava comentários, escrevia longos textos sobre o quão era difícil ser adolescente, resenhava livros, participava de grupos de blogagem coletiva. Mas eu não pertencia.
Em meados de 2005, não pertencia porque minha internet não era rápida o suficiente para carregar todos aqueles gifs. Em 2008, porque meu computador não tinha photoshop para fazer layouts com brushes e pngs transparentes. Em 2011, meus dramas adolescentes não eram tão legais quanto os das meninas que saiam escondidas para ir em festas. Em 2013, não tinha visualizações e comentários suficientes para ser digna de nota. Em 2016, meu conteúdo não era autêntico o suficiente para participar da blogosfera old schol.
Sempre ficava ali, à margem. E, pensando sobre isso agora, percebo que talvez essa seja a razão pela qual eu precise recomeçar de tempos em tempos. Cada uma dessas tendências representa uma oportunidade que tive de me adequar, assim como cada um dos meus blogs representa uma tentativa vã de sentar na mesa dos populares (ou dos desajustados orgulhosos) durante o almoço. Não conseguir alcançar um objetivo pode ser frustrante, mas quando esse objetivo ganha uma conotação subjetiva desproporcional, a coisa extrapola a frustração e se transforma em fracasso.
E o fracasso... bom, o fracasso fede. E não adianta esfregar. O cheiro dele não sai do seu corpo desse jeito.
Mas a vida continua, certo?
Conforme o tempo foi passando, o meu apreço pelo mundo dos blogs e o sonho de ser a nova Agatha Christie se transformaram em objetivos mais concretos - como arrumar um emprego, ganhar um salário, parar de viver as custas dos meus pais e pagar meus boletos. Assim como a Tati e a Manu já pontuaram muito bem (tanto que senti que elas tinham arrancados os sentimentos de dentro de mim e colocado na tela do computador), o fato de eu não ter me enveredado por uma profissão ligada a escrita fez com que minha relação com ela desandasse.
Como num casamento, a escrita e eu passamos por várias crises. Primeiro, com a falta de tempo e o sentimento de não ser boa o suficiente. Depois, com o mestrado e a imposição da escrita científica - e aí coisa desandou de vez. Passei meses olhando para a tela em branco. Das primeiras três páginas de rascunho do meu projeto de qualificação, apenas dois parágrafos ficaram intocados - não por estarem bem escritos, mas porque minha orientadora não teve tempo para ler tudo. A folha em branco no word (em Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5) não só me encarava, mas me assombrava. O medo me travou. A menina que foi desclassificada da olimpíada de redação por "escrever demais" começou a desconfiar que nunca tinha sido alfabetizada.
Mas desapegar é difícil. Mesmo com as crises, problemas e traumas, o apego e o amor ainda estão lá. Assim como os noivos jogam os votos um na cara do outro "até que a morte os separe", eu me vejo olhando para a pequena Natália que viveu seus melhores momentos em meio a palavras (lidas e escritas) e não consigo deixá-la para trás. Não consigo dizer para ela que é o fim, que o ensino médio terminou, que a vida adulta exige sacrifícios e que, de qualquer forma, a mesa dos populares era só uma metáfora.
Ainda sobre metáforas, me vejo como o dilema do porco espinho, de Schopenhauer: ficar perto da escrita me machuca, mas se eu me afastar demais estarei fada à morte. Não literalmente, claro, mas acho que exemplo ilustra bem. Eu preciso escrever. E mesmo que eu nunca consiga pertencer ao mundo dos blogs, a escrita faz com que eu pertença a mim mesma. Não é muito, mas, por hora, é o bastante.
E o fracasso... bom, o fracasso fede. E não adianta esfregar. O cheiro dele não sai do seu corpo desse jeito.
Foto por @fotografierende |
Conforme o tempo foi passando, o meu apreço pelo mundo dos blogs e o sonho de ser a nova Agatha Christie se transformaram em objetivos mais concretos - como arrumar um emprego, ganhar um salário, parar de viver as custas dos meus pais e pagar meus boletos. Assim como a Tati e a Manu já pontuaram muito bem (tanto que senti que elas tinham arrancados os sentimentos de dentro de mim e colocado na tela do computador), o fato de eu não ter me enveredado por uma profissão ligada a escrita fez com que minha relação com ela desandasse.
Como num casamento, a escrita e eu passamos por várias crises. Primeiro, com a falta de tempo e o sentimento de não ser boa o suficiente. Depois, com o mestrado e a imposição da escrita científica - e aí coisa desandou de vez. Passei meses olhando para a tela em branco. Das primeiras três páginas de rascunho do meu projeto de qualificação, apenas dois parágrafos ficaram intocados - não por estarem bem escritos, mas porque minha orientadora não teve tempo para ler tudo. A folha em branco no word (em Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5) não só me encarava, mas me assombrava. O medo me travou. A menina que foi desclassificada da olimpíada de redação por "escrever demais" começou a desconfiar que nunca tinha sido alfabetizada.
Mas desapegar é difícil. Mesmo com as crises, problemas e traumas, o apego e o amor ainda estão lá. Assim como os noivos jogam os votos um na cara do outro "até que a morte os separe", eu me vejo olhando para a pequena Natália que viveu seus melhores momentos em meio a palavras (lidas e escritas) e não consigo deixá-la para trás. Não consigo dizer para ela que é o fim, que o ensino médio terminou, que a vida adulta exige sacrifícios e que, de qualquer forma, a mesa dos populares era só uma metáfora.
Ainda sobre metáforas, me vejo como o dilema do porco espinho, de Schopenhauer: ficar perto da escrita me machuca, mas se eu me afastar demais estarei fada à morte. Não literalmente, claro, mas acho que exemplo ilustra bem. Eu preciso escrever. E mesmo que eu nunca consiga pertencer ao mundo dos blogs, a escrita faz com que eu pertença a mim mesma. Não é muito, mas, por hora, é o bastante.
We live in the shadows and
we had the chance and threw it away
and it's never going to be the same
'cause the years are falling by like the rain
it's never gonna be the same
'til the life I knew comes to my house and says
hello
Há exatos três anos, no dia 24 de agosto de 2016, eu fiz minha primeira publicação no meu antigo blog, o LAPSOS. O fato de essa coincidência não ter sido planejado me deixou reflexiva - ultimamente, eu tenho refletido muito sobre coisas que antes julgava simples, banais e corriqueiras. Eu escrevo em blog desde... desde sempre. Não consigo me lembrar muito bem do ano exato, mas meu primeiro cantinho na internet tinha endereço .zip.net, era hospedado em um host da UOL que não existe mais e, para acessá-lo eu usava meu e-mail @oi.com.br. Minha internet era discada, eu fazia buscas no Cadê (um serviço de busca brasileiro que foi comprado pelo Yahoo!) e meu blog preferido era o Blog da Dê, uma menina que morava em São Paulo e compartilhava prints de jogos de maquiagem.
Sempre fico nostálgica quando falo sobre blogs porque eles sempre fizeram parte da minha vida. E junto com eles sempre existiu essa vontade de pertencer a um grupo de pessoas que compartilham a vida na internet. Para o meu azar, participar e pertencer são coisas muito diferentes. Eu sempre participei desse mundo: trocava selos de awards feitos no glitterfy, deixava comentários, escrevia longos textos sobre o quão era difícil ser adolescente, resenhava livros, participava de grupos de blogagem coletiva. Mas eu não pertencia.
Em meados de 2005, não pertencia porque minha internet não era rápida o suficiente para carregar todos aqueles gifs. Em 2008, porque meu computador não tinha photoshop para fazer layouts com brushes e pngs transparentes. Em 2011, meus dramas adolescentes não eram tão legais quanto os das meninas que saiam escondidas para ir em festas. Em 2013, não tinha visualizações e comentários suficientes para ser digna de nota. Em 2016, meu conteúdo não era autêntico o suficiente para participar da blogosfera old schol.
Sempre ficava ali, à margem. E, pensando sobre isso agora, percebo que talvez essa seja a razão pela qual eu precise recomeçar de tempos em tempos. Cada uma dessas tendências representa uma oportunidade que tive de me adequar, assim como cada um dos meus blogs representa uma tentativa vã de sentar na mesa dos populares (ou dos desajustados orgulhosos) durante o almoço. Não conseguir alcançar um objetivo pode ser frustrante, mas quando esse objetivo ganha uma conotação subjetiva desproporcional, a coisa extrapola a frustração e se transforma em fracasso.
E o fracasso... bom, o fracasso fede. E não adianta esfregar. O cheiro dele não sai do seu corpo desse jeito.
Mas a vida continua, certo?
Conforme o tempo foi passando, o meu apreço pelo mundo dos blogs e o sonho de ser a nova Agatha Christie se transformaram em objetivos mais concretos - como arrumar um emprego, ganhar um salário, parar de viver as custas dos meus pais e pagar meus boletos. Assim como a Tati e a Manu já pontuaram muito bem (tanto que senti que elas tinham arrancados os sentimentos de dentro de mim e colocado na tela do computador), o fato de eu não ter me enveredado por uma profissão ligada a escrita fez com que minha relação com ela desandasse.
Como num casamento, a escrita e eu passamos por várias crises. Primeiro, com a falta de tempo e o sentimento de não ser boa o suficiente. Depois, com o mestrado e a imposição da escrita científica - e aí coisa desandou de vez. Passei meses olhando para a tela em branco. Das primeiras três páginas de rascunho do meu projeto de qualificação, apenas dois parágrafos ficaram intocados - não por estarem bem escritos, mas porque minha orientadora não teve tempo para ler tudo. A folha em branco no word (em Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5) não só me encarava, mas me assombrava. O medo me travou. A menina que foi desclassificada da olimpíada de redação por "escrever demais" começou a desconfiar que nunca tinha sido alfabetizada.
Mas desapegar é difícil. Mesmo com as crises, problemas e traumas, o apego e o amor ainda estão lá. Assim como os noivos jogam os votos um na cara do outro "até que a morte os separe", eu me vejo olhando para a pequena Natália que viveu seus melhores momentos em meio a palavras (lidas e escritas) e não consigo deixá-la para trás. Não consigo dizer para ela que é o fim, que o ensino médio terminou, que a vida adulta exige sacrifícios e que, de qualquer forma, a mesa dos populares era só uma metáfora.
Ainda sobre metáforas, me vejo como o dilema do porco espinho, de Schopenhauer: ficar perto da escrita me machuca, mas se eu me afastar demais estarei fada à morte. Não literalmente, claro, mas acho que exemplo ilustra bem. Eu preciso escrever. E mesmo que eu nunca consiga pertencer ao mundo dos blogs, a escrita faz com que eu pertença a mim mesma. Não é muito, mas, por hora, é o bastante.
E o fracasso... bom, o fracasso fede. E não adianta esfregar. O cheiro dele não sai do seu corpo desse jeito.
Foto por @fotografierende |
Conforme o tempo foi passando, o meu apreço pelo mundo dos blogs e o sonho de ser a nova Agatha Christie se transformaram em objetivos mais concretos - como arrumar um emprego, ganhar um salário, parar de viver as custas dos meus pais e pagar meus boletos. Assim como a Tati e a Manu já pontuaram muito bem (tanto que senti que elas tinham arrancados os sentimentos de dentro de mim e colocado na tela do computador), o fato de eu não ter me enveredado por uma profissão ligada a escrita fez com que minha relação com ela desandasse.
Como num casamento, a escrita e eu passamos por várias crises. Primeiro, com a falta de tempo e o sentimento de não ser boa o suficiente. Depois, com o mestrado e a imposição da escrita científica - e aí coisa desandou de vez. Passei meses olhando para a tela em branco. Das primeiras três páginas de rascunho do meu projeto de qualificação, apenas dois parágrafos ficaram intocados - não por estarem bem escritos, mas porque minha orientadora não teve tempo para ler tudo. A folha em branco no word (em Times New Roman, tamanho 12, espaçamento 1,5) não só me encarava, mas me assombrava. O medo me travou. A menina que foi desclassificada da olimpíada de redação por "escrever demais" começou a desconfiar que nunca tinha sido alfabetizada.
Mas desapegar é difícil. Mesmo com as crises, problemas e traumas, o apego e o amor ainda estão lá. Assim como os noivos jogam os votos um na cara do outro "até que a morte os separe", eu me vejo olhando para a pequena Natália que viveu seus melhores momentos em meio a palavras (lidas e escritas) e não consigo deixá-la para trás. Não consigo dizer para ela que é o fim, que o ensino médio terminou, que a vida adulta exige sacrifícios e que, de qualquer forma, a mesa dos populares era só uma metáfora.
Ainda sobre metáforas, me vejo como o dilema do porco espinho, de Schopenhauer: ficar perto da escrita me machuca, mas se eu me afastar demais estarei fada à morte. Não literalmente, claro, mas acho que exemplo ilustra bem. Eu preciso escrever. E mesmo que eu nunca consiga pertencer ao mundo dos blogs, a escrita faz com que eu pertença a mim mesma. Não é muito, mas, por hora, é o bastante.
We live in the shadows and
we had the chance and threw it away
and it's never going to be the same
'cause the years are falling by like the rain
it's never gonna be the same
'til the life I knew comes to my house and says
hello
13 agosto 2019
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natalia non grata /
pessoal
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Honrada por ser citada no seu primeiro post <3
ResponderExcluirE entre idas e vindas, bem vinda de volta. Tô sempre aqui por você!
Limonada
Nossa, eu li esse texto e me vi nele todinha. A minha "desculpa" sempre foi que eu escrevia para mim, e que não me importava com comentários, leitores ou qualquer coisa do tipo.
ResponderExcluirEu estou tentando decidir para que lado correr nessa história de escrita e blog.
Boa sorte para nós desajustados orgulhosos rs
teste
ResponderExcluirteste
Excluir53w53
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