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    supostamente, ela escreve

    Esse blog foi criado para que eu, Natália Oliveira, tivesse um espaço na internet para publicar meus textos. A bem da verdade, mais procrastino que escrevo, mas isso não me impede de sonhar acordada com o dia em que conseguirei escrever algo realmente bom. Sou saudosista da época dos blogs pessoais, gosto de histórias (e fofocas) e de jogos casuais. Esse blog já teve vários nomes (natalapses; natália non grata; olive trees, garnets and trains) e escrevo nesse espaço de forma inconstante desde agosto de 2016.

    Se quiser entrar em contato, basta deixar um comentário ou mandar um e-mail para mail.natalialvr@gmail.com.

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    amarelo

    Antes tarde do que nunca, esse é um post sobre setembro amarelo. Antes de lê-lo, você deve ter em mente que:

    • vou falar sobre episódios depressivos, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e ideação suicida. Esses assuntos podem ser gatilhos, principalmente para quem não está em um momento legal. Se esse é seu caso, recomendo fortemente que não leia esse texto e que procure ajuda. Aqui tem todos os canais de atendimento do Centro de Valorização da Vida (CVV) e nessa thread tem o contato de algumas clínicas populares que fazem atendimentos gratuitos (ou mediante pagamentos simbólicos). Não deixe de procurar ajuda, tá bem? 
    • não sou profissional da saúde e não tenho formação na área. Tudo o que está escrito aqui advém da minha experiência e da minha percepção. Não são verdades absolutas, não são parâmetros para autodiagnostico (nada deveria ser, se você pensar bem) e não são regras universais. Se você identificar alguma coisa nesse texto que esteja esdruxulamente errado, me manda uma mensagem para que eu possa colocar uma errata no post, ok?

    A memória mais antiga que eu tenho com relação à saúde mental advém do início dos anos 2000, quando estava na segunda série. Uma amiga e eu estávamos criando nossas assinaturas, porque era muito adulto ter uma assinatura e saber fazer ela igualzinha todas as vezes. Lembro de estar sentada na frente da TV, praticando incessantemente minha nova assinatura, quando ouvi uma moça dizer que as pessoas que faziam “forcas” no final da assinatura tendiam a cometer suicídio. Olhei para todas aquelas folhas com garranchos rabiscados e a única coisa comum a todos aqueles rabiscos era a “forca” no final. Talvez tudo tenha começado aí, talvez seja uma daquelas coisas latentes que se manifestam na nossa personalidade mais cedo ou mais tarde, não importa muito agora. O que importa é que, a partir daquele momento, suicídio entrou na lista de assuntos que despertam o meu interesse.

    Muitas pessoas torcem o nariz quando o tema é morte e/ou suicídio. Algumas vão dizer “Deus me livre” e cortar o assunto, outras vão fazer careta e sair de perto. Nunca foi meu caso. Pensar na morte era tão natural quanto respirar e querer morrer não era mais do que um sintoma de estar viva. E eu realmente acreditava – e, de certa forma, continuo acreditando – que se falássemos mais sobre isso seria muito mais fácil diferenciar um “tive um dia péssimo, queria estar morta” de um “comprei três caixas de paracetamol e estou pensando em me matar”. Mas eu também acreditava que, se eu chegasse nesse ponto, seria mais fácil pedir ajuda. Afinal, uma pessoa que não tem problemas em falar sobre morte não vai ter problemas em procurar ajuda psicológica/psiquiátrica no momento de dificuldade, certo? Bom, não. Nada certo.

    Foto por @yanots

    Aos dezoito anos, comecei a ter alguns sinais de que as coisas não estavam indo tão bem. Alguns choros injustificados, tristeza e desânimo. As vezes piorava, mas não chegavam a ser ruim em um nível que me preocupasse. Estar mal é normal, acontece. Aos vinte, comecei a trabalhar em um lugar... pesado. Um lugar com um número de eventos estressores bem maiores que o normal (ou que o necessário). Os sintomas pioraram, ficaram mais frequentes, evoluíram. Medo de sair de casa com os amigos, medo de esquecer a senha do cartão e atrasar toda a fila do caixa, ataques de pânico, compulsão alimentar, ideação suicida.

    Demorei quase um ano para procurar ajuda psicológica e nem vou entrar no mérito da intervenção psiquiátrica porque ainda não estou bem resolvida com isso. O fato é que eu não acreditava que tinha depressão, nem que ansiedade fosse uma questão, muito menos que procurar métodos de cometer suicídio na internet e considerar comprar alguns itens eram comportamentos problemáticos para alguém que gostava tanto do tema. E sabe por quê? Porque eu não perdi peso, ganhei peso. Não tinha insônia, nem dificuldade para dormir. Na verdade, eu dormia em qualquer lugar, em qualquer horário, em qualquer posição. Porque por mais que eu não gostasse de acordar, eu conseguia levantar da cama, tomar banho e ir trabalhar. Porque o choro compulsivo fora de hora e sem motivo era apenas sintoma da TPM, a perda de interesse e a falta de vontade de fazer qualquer coisa eram preguiça, a irritabilidade era da minha personalidade.

    Doenças e transtornos de ordem psíquica são como doenças e transtornos físicos: os sintomas variam. Você chega no hospital com dor de cabeça: pode ser um simples resfriado, pode ser enxaqueca ou pode ser um derrame cerebral. Óbvio que existem estereótipos e sintomas mais comuns, mas tê-los não te faz estar doente, da mesma forma que não os ter não te isenta dessa condição. Os sintomas são tão variados, específicos e concomitantes que alguns psicólogos não gostam de trabalhar com diagnóstico. O tratamento é tão específico que algumas pessoas ficam em tratamento psiquiátrico por anos até encontrar um remédio que se adeque ao seu organismo e suas necessidades.

    Se uma pessoa que tem um diploma e uma profissão aptos para a função podem encontrar dificuldade em ajudar uma pessoa com uma condição mental incapacitante, imagine uma pessoa que nunca teve contato com a área?

    Quadrinho por @cartumante

    O setembro amarelo é uma campanha brasileira para a prevenção do suicídio. O intuito da campanha é promover discussões e conscientizar a população acerca da importância dessa discussão. Por ano, 12 mil pessoas tiram sua própria vida e estima-se que mais de 96% dos casos estejam ligados a algum tipo de transtorno mental (os dados são do site oficial da campanha). É um assunto sério, é uma questão de saúde pública. Um problema dessa magnitude não vai ser resolvido em uma conversa pelo chat do Facebook, não vai ser resolvido com um abraço ou com um café. Cada ano que passa eu vejo mais e mais pessoas se disponibilizando para "ouvir desabafos" e para "conversar" sobre transtornos mentais. Quando vejo isso, só consigo pensar nesse quadrinho que a @cartumante sabiamente criou. Repito a pergunta: se uma pessoa que tem um diploma e uma profissão aptos para a função podem encontrar dificuldade em ajudar uma pessoa com uma condição mental incapacitante, imagine uma pessoa que nunca teve contato com a área?

    Esse post não está aqui para dizer que você não deve ajudar seu amigo/colega que está passando por uma situação difícil, mas existem formas de ajudar. Se alguém te procura para desabafar e você percebe que não é um simples desabafo, que aquela pessoa pode ter sintomas de depressão ou de algum transtorno de ordem psíquica, estimule-a a buscar ajuda psicológica e/ou psiquiátrica. Sua tentativa de solucionar o problema sem a ajuda desses profissionais pode acabar piorando a situação ou postergando a procura por ajuda adequada, como aconteceu comigo. Lembro de ter uma dessas conversas de "pode desabafar comigo" durante uma crise de ansiedade que acabou desencadeando em uma série de eventos dos quais me envergonho até hoje. Mesmo assim, tive muita sorte: pagar um mico era a coisa mais leve que podia ter saído dessa conversa.

    Se você conhece alguém que está tendo idealizações suicidas, incentive-o a buscar ajuda especializada. Nesse link você encontra todos os canais de atendimento do Centro de Valorização da Vida (CVV). Eles atendem por chat, telefone (ligação gratuita), e-mail e presencialmente (infelizmente nem todas as cidades possuem postos de atendimento. Consulte o mais próximo de você aqui).

    Se você precisa de atendimento psicológico gratuito ou de baixo custo, a @pseudoruiva_ fez uma theread muito bacana com os contatos de clínicas populares que oferecem atendimento gratuito.

    Se você precisa de atendimento psiquiátrico gratuito, o SUS disponibiliza esse atendimento através dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). Esse serviço ocorre em diversas modalidades de atendimento, portanto é indicado que você procure o Núcleo de Apoio à Saúde da Família da sua cidade para que eles realizem o encaminhamento para o CAP adequado.

    Se você quer ajudar com a campanha Setembro Amarelo, o site oficial da campanha disponibiliza uma cartilha e posters que você pode imprimir e distribuir por aí. Eles também tem modelos de posts para redes sociais. 
    Antes tarde do que nunca, esse é um post sobre setembro amarelo. Antes de lê-lo, você deve ter em mente que:

    • vou falar sobre episódios depressivos, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) e ideação suicida. Esses assuntos podem ser gatilhos, principalmente para quem não está em um momento legal. Se esse é seu caso, recomendo fortemente que não leia esse texto e que procure ajuda. Aqui tem todos os canais de atendimento do Centro de Valorização da Vida (CVV) e nessa thread tem o contato de algumas clínicas populares que fazem atendimentos gratuitos (ou mediante pagamentos simbólicos). Não deixe de procurar ajuda, tá bem? 
    • não sou profissional da saúde e não tenho formação na área. Tudo o que está escrito aqui advém da minha experiência e da minha percepção. Não são verdades absolutas, não são parâmetros para autodiagnostico (nada deveria ser, se você pensar bem) e não são regras universais. Se você identificar alguma coisa nesse texto que esteja esdruxulamente errado, me manda uma mensagem para que eu possa colocar uma errata no post, ok?

    A memória mais antiga que eu tenho com relação à saúde mental advém do início dos anos 2000, quando estava na segunda série. Uma amiga e eu estávamos criando nossas assinaturas, porque era muito adulto ter uma assinatura e saber fazer ela igualzinha todas as vezes. Lembro de estar sentada na frente da TV, praticando incessantemente minha nova assinatura, quando ouvi uma moça dizer que as pessoas que faziam “forcas” no final da assinatura tendiam a cometer suicídio. Olhei para todas aquelas folhas com garranchos rabiscados e a única coisa comum a todos aqueles rabiscos era a “forca” no final. Talvez tudo tenha começado aí, talvez seja uma daquelas coisas latentes que se manifestam na nossa personalidade mais cedo ou mais tarde, não importa muito agora. O que importa é que, a partir daquele momento, suicídio entrou na lista de assuntos que despertam o meu interesse.

    Muitas pessoas torcem o nariz quando o tema é morte e/ou suicídio. Algumas vão dizer “Deus me livre” e cortar o assunto, outras vão fazer careta e sair de perto. Nunca foi meu caso. Pensar na morte era tão natural quanto respirar e querer morrer não era mais do que um sintoma de estar viva. E eu realmente acreditava – e, de certa forma, continuo acreditando – que se falássemos mais sobre isso seria muito mais fácil diferenciar um “tive um dia péssimo, queria estar morta” de um “comprei três caixas de paracetamol e estou pensando em me matar”. Mas eu também acreditava que, se eu chegasse nesse ponto, seria mais fácil pedir ajuda. Afinal, uma pessoa que não tem problemas em falar sobre morte não vai ter problemas em procurar ajuda psicológica/psiquiátrica no momento de dificuldade, certo? Bom, não. Nada certo.

    Foto por @yanots

    Aos dezoito anos, comecei a ter alguns sinais de que as coisas não estavam indo tão bem. Alguns choros injustificados, tristeza e desânimo. As vezes piorava, mas não chegavam a ser ruim em um nível que me preocupasse. Estar mal é normal, acontece. Aos vinte, comecei a trabalhar em um lugar... pesado. Um lugar com um número de eventos estressores bem maiores que o normal (ou que o necessário). Os sintomas pioraram, ficaram mais frequentes, evoluíram. Medo de sair de casa com os amigos, medo de esquecer a senha do cartão e atrasar toda a fila do caixa, ataques de pânico, compulsão alimentar, ideação suicida.

    Demorei quase um ano para procurar ajuda psicológica e nem vou entrar no mérito da intervenção psiquiátrica porque ainda não estou bem resolvida com isso. O fato é que eu não acreditava que tinha depressão, nem que ansiedade fosse uma questão, muito menos que procurar métodos de cometer suicídio na internet e considerar comprar alguns itens eram comportamentos problemáticos para alguém que gostava tanto do tema. E sabe por quê? Porque eu não perdi peso, ganhei peso. Não tinha insônia, nem dificuldade para dormir. Na verdade, eu dormia em qualquer lugar, em qualquer horário, em qualquer posição. Porque por mais que eu não gostasse de acordar, eu conseguia levantar da cama, tomar banho e ir trabalhar. Porque o choro compulsivo fora de hora e sem motivo era apenas sintoma da TPM, a perda de interesse e a falta de vontade de fazer qualquer coisa eram preguiça, a irritabilidade era da minha personalidade.

    Doenças e transtornos de ordem psíquica são como doenças e transtornos físicos: os sintomas variam. Você chega no hospital com dor de cabeça: pode ser um simples resfriado, pode ser enxaqueca ou pode ser um derrame cerebral. Óbvio que existem estereótipos e sintomas mais comuns, mas tê-los não te faz estar doente, da mesma forma que não os ter não te isenta dessa condição. Os sintomas são tão variados, específicos e concomitantes que alguns psicólogos não gostam de trabalhar com diagnóstico. O tratamento é tão específico que algumas pessoas ficam em tratamento psiquiátrico por anos até encontrar um remédio que se adeque ao seu organismo e suas necessidades.

    Se uma pessoa que tem um diploma e uma profissão aptos para a função podem encontrar dificuldade em ajudar uma pessoa com uma condição mental incapacitante, imagine uma pessoa que nunca teve contato com a área?

    Quadrinho por @cartumante

    O setembro amarelo é uma campanha brasileira para a prevenção do suicídio. O intuito da campanha é promover discussões e conscientizar a população acerca da importância dessa discussão. Por ano, 12 mil pessoas tiram sua própria vida e estima-se que mais de 96% dos casos estejam ligados a algum tipo de transtorno mental (os dados são do site oficial da campanha). É um assunto sério, é uma questão de saúde pública. Um problema dessa magnitude não vai ser resolvido em uma conversa pelo chat do Facebook, não vai ser resolvido com um abraço ou com um café. Cada ano que passa eu vejo mais e mais pessoas se disponibilizando para "ouvir desabafos" e para "conversar" sobre transtornos mentais. Quando vejo isso, só consigo pensar nesse quadrinho que a @cartumante sabiamente criou. Repito a pergunta: se uma pessoa que tem um diploma e uma profissão aptos para a função podem encontrar dificuldade em ajudar uma pessoa com uma condição mental incapacitante, imagine uma pessoa que nunca teve contato com a área?

    Esse post não está aqui para dizer que você não deve ajudar seu amigo/colega que está passando por uma situação difícil, mas existem formas de ajudar. Se alguém te procura para desabafar e você percebe que não é um simples desabafo, que aquela pessoa pode ter sintomas de depressão ou de algum transtorno de ordem psíquica, estimule-a a buscar ajuda psicológica e/ou psiquiátrica. Sua tentativa de solucionar o problema sem a ajuda desses profissionais pode acabar piorando a situação ou postergando a procura por ajuda adequada, como aconteceu comigo. Lembro de ter uma dessas conversas de "pode desabafar comigo" durante uma crise de ansiedade que acabou desencadeando em uma série de eventos dos quais me envergonho até hoje. Mesmo assim, tive muita sorte: pagar um mico era a coisa mais leve que podia ter saído dessa conversa.

    Se você conhece alguém que está tendo idealizações suicidas, incentive-o a buscar ajuda especializada. Nesse link você encontra todos os canais de atendimento do Centro de Valorização da Vida (CVV). Eles atendem por chat, telefone (ligação gratuita), e-mail e presencialmente (infelizmente nem todas as cidades possuem postos de atendimento. Consulte o mais próximo de você aqui).

    Se você precisa de atendimento psicológico gratuito ou de baixo custo, a @pseudoruiva_ fez uma theread muito bacana com os contatos de clínicas populares que oferecem atendimento gratuito.

    Se você precisa de atendimento psiquiátrico gratuito, o SUS disponibiliza esse atendimento através dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPs). Esse serviço ocorre em diversas modalidades de atendimento, portanto é indicado que você procure o Núcleo de Apoio à Saúde da Família da sua cidade para que eles realizem o encaminhamento para o CAP adequado.

    Se você quer ajudar com a campanha Setembro Amarelo, o site oficial da campanha disponibiliza uma cartilha e posters que você pode imprimir e distribuir por aí. Eles também tem modelos de posts para redes sociais. 
    . 26 setembro 2019 .

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