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    supostamente, ela escreve

    Esse blog foi criado para que eu, Natália Oliveira, tivesse um espaço na internet para publicar meus textos. A bem da verdade, mais procrastino que escrevo, mas isso não me impede de sonhar acordada com o dia em que conseguirei escrever algo realmente bom. Sou saudosista da época dos blogs pessoais, gosto de histórias (e fofocas) e de jogos casuais. Esse blog já teve vários nomes (natalapses; natália non grata; olive trees, garnets and trains) e escrevo nesse espaço de forma inconstante desde agosto de 2016.

    Se quiser entrar em contato, basta deixar um comentário ou mandar um e-mail para mail.natalialvr@gmail.com.

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    No dia 25 de outubro de 1990, Bart, Lisa e Meggie subiram na casa da árvore para contar três histórias de terror. A partir daí, o especial de halloween dos Simpsons se tornou a tradição preferida de grande parte dos fãs. O episódio foi o responsável por abrir as portas para as paródias e referências à cultura pop na animação - que extrapolaram rapidamente o especial e se tornaram frequentes em todas as temporadas.


    Por mais que a Casa da Árvore dos Horrores (que já foi traduzido como "especial de dia das bruxas", "casa dos horrores" e "no dia das bruxas") tenha perdido rapidamente o tom sombrio e adquirido uma faceta mais leve, a tradição ainda abriga boa parte meus episódios preferidos da série. E, para comemorar o dia das bruxas, trouxe 13 referências à cultura pop que aparecem nesses episódios. São as minhas preferidas, aquelas que deixaram meu coração quentinho - apesar de não muito assustado - quando apareceram na tela.
     

    Horror em Amityville - Treehouse of Horror I (T2E3)


    A primeira história apresentada na Casa da Árvore dos Horrores é inspirada nos assassinatos que ocorreram no número 112 da Ocean Avenue - e todas as fake news oportunistas que surgiram sobre o lugar. Após se mudarem para uma casa assombrada por espíritos malignos, Homer, Bart, Lisa e Maggie começam a apresentar comportamentos violentos.

    O Corvo, de Edgar Allan Poe - Treehouse of Horror I (T2E3)


    Lisa recita o poema de Edgar Allan Poe com Homer representando as falas do personagem principal e Bart, o corvo. Uma questão que tenho com esse poema é que grande parte do terror depende da sonoridade, que se perde na tradução. As interrupções de Bart também não ajudam a manter a atmosfera ansiosa característica da obra. Mas, por se tratar de um dos meus poemas preferidos da vida, não poderia ficar de fora da lista.

    O Iluminado, de Stephen King - Treehouse of Horror V (T6E6)


    A família Simpson se muda para o hotel do Sr. Burns durante o inverno. Porém, o velho bilionário retira todas as bebidas alcoólicas e TVs do imóvel, fazendo com que Homer entre em pânico. Enquanto isso, Bart usa seus poderes para pedir socorro ao zelador Willie. O episódio faz referência às cenas do filme de 1980, dirigido por Stanley Kubrick e inspirado no livro de Stephen King. Um bonûs: o zelador Willie morre da mesma forma nas três histórias que compõem esse episódio.




    Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle - Treehouse of Horror XV (T16E1)


    Lisa (Eliza Simpson) decide ajudar o chefe Wiggum a capturar o Assassino das Costeletas, um homem misterioso que esfaqueia prostitutas. Com a ajuda de Bart (Dr. Bartley), ela descobre que as facas usadas nos crimes pertencem a um conjunto raro. Mesmo tendo algumas ressalvas com relação à obra de Arthur Conan Doyle, amei ver Lisa interpretando o papel de Sherlock Holmes.

    A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells - Treehouse of Horror XVII (T18E4)


    Sou adepta à teoria de que a pós-verdade chegará em um ponto em que não saberemos o que é real e o que é ficção. Talvez seja por isso que o caos causado pela adaptação que Orson Welles fez do romance de H. G. Wells me fascine tanto. Esse episódio é uma releitura do acontecimento: a cidade de Springfield entra em pânico quando um programa de rádio afirma que alienígenas estão invadindo o país.

    Peanuts, de Charles Schulz - Treehouse of Horror XIX (T208E4)


    Milhouse deixa de comparecer a uma festa de Halloween para esperar a Grande Abóbora: uma abóbora gigante e mágica que visita as plantações no dia das bruxas distribuindo doces para as crianças que acreditam. Surpreendentemente, a Grande Abóbora realmente aparece, mas ela começa um massacre após descobrir que os humanos matam e devoram as abóboras. A estética do episódio é inspirada no clássico Peanuts.

    The Office (Estados Unidos) - Treehouse of Horror XXI (T228E4)


    Nesse curto trecho, a série apresenta a clássica abertura de The Office com monstros clássicos no lugar dos funcionários da Dunder Mifflin. Apesar de ser uma aparição bem singela - não chega a ser uma das três histórias do episódio, apenas uma ponte com menos de 40 segundos, eu não poderia deixar de citar essa alusão à uma das melhores séries de comédia de todos os tempos (de acordo com o Instituto Eu de Pesquisa). 


    Crepúsculo, de Stephenie Meyer - Treehouse of Horror XXI (T228E4)


    Lisa se apaixona por Edmund, um garoto misterioso que estuda em sua escola, mas rapidamente descobre que seu crush é um vampiro. Inicialmente isso não é um empecilho para o relacionamento dos dois, mas, quando a fome de sangue fala mais alto, Homer entra em cena e usa seu colesterol altíssimo para salvar a filha. Longe de ser uma cópia fiel, o episódio apresenta uma versão engraçadinha do livro de Stephenie Meyer, sem deixar de fazer referência aos momentos clássicos do filme.

    Atividade Paranormal - Treehouse of Horror XXIII (T248E2)

    Coisas estranhas acontecem na Evergreen Terrace e Homer instala uma série de câmeras pela casa para tentar descobrir a causa desse fenômeno. Ao final, descobrimos que o demônio que assombra a casa veio cobrar uma antiga promessa feia por um dos membros da família. Inspirado no clássico do cinema, o episódio mescla os fenômenos capturados pelas câmeras com a reação da família aos acontecimentos.

    Guilhermo del Toro - Treehouse of Horror XXIV (T258E2)


    As aberturas e cenas do sofá são um ponto chave para os fãs de Os Simpsons. Nessa abertura, roteirizada e dirigida por Guilhermo del Toro, o cineasta preenche as cenas com inúmeras referências a suas obras e outros ícones do terror. São tantas referências que fica difícil identificar todas (infinitos agradecimentos a boa alma que fez um vídeo para apontar todas elas).


    Laranja Mecânica, de Anthony Burgess - Treehouse of Horror XXV (T268E4)


    Com Moe fazendo o papel de Alex e tendo Homer, Carl e Lenny com seus drugues, o episódio faz referência ao clássico livro de Anthony Burgess e ao filme de Stanley Kubrick. Exceto por algumas piadas usadas para encurtar o enredo, o episódio faz um resumo similar a obra original.

    Coraline, de Neil Gaiman - Treehouse of Horror XXVIII (T298E4)


    Lisa encontra uma chave que abre a porta para um mundo estranho, onde sua família tem olhos em forma de botão. Para além disso, a história não diverge muito do livro de Neil Gaiman, nem do filme de Henry Selick. Destaque para a Bola de Neve II (que na verdade é Bola de Neve V) interpretando o papel do Gato.

    Toy Story - Treehouse of Horror XXVIII (T298E4)


    Bart é uma criança desleixada que destrói seus brinquedos por diversão. Depois de muito sofrimento, os brinquedos organizam um plano de vingança que vai além de um simples susto. Esse episódio é uma releitura da melhor franquia de animação da Pixar exceto Toy Story 4 e Bart é inspirado no personagem Sid Phillips.


    Você pode assistir todos os episódios da Casa da Árvore dos Horrores (e os demais que compõe as 31 primeiras temporadas de Os Simpsons) no Disney Star+ e em outros cantos da internet. Também pode consultar um resumo de todos os episódios na WikiSimpsons.
    . 31 outubro 2022 .
    . 07 agosto 2022 .



    A morte de Ivan Ilitch, ficção escrita por Tolstói em 1886, na Rússia. A morte é um dia que vale a pena viver, não-ficção escrita pela médica Ana Claudia Quintana Arantes em 2019, no Brasil. Muitas são as distâncias que separam as duas obras: o gênero, o tempo (133 anos) e o Oceano Atlântico. Entretanto, se colocarmos a ficção narrada por Tolstói à prova da realidade apresentada no livro de Ana Claudia, essas distâncias se dissipam - e isso é incrível. 

    Ivan Ilitch sabe que está morrendo. Seus parentes, amigos e médicos também sabem, mas fingem que não. A mentira ensaiada o irrita, de forma que a presença dessas pessoas o causam profundo incômodo. Como Ana Claudia pontuou em seu livro e nessa palestra, as pessoas que estão no leito de morte processam tudo muito rápido, pois não têm tempo a perder. Todo minuto que se passa é valioso e o "futuro morto" não quer desperdiçá-los com ladainhas e mentiras descabidas. Nem todo ser humano está preparado para ser digno do escasso tempo de um paciente terminal.

    Todos se levantaram, despediram-se e foram embora.
    Quando eles saíram, Ivan Ilitch pareceu sentir-se mais leve: não estava mais ali a mentira, ela tinha ido embora com eles - mas a dor ficara. A mesma dor, o mesmo pavor fazia com que nada fosse mais pesado, nada fosse mais leve. Tudo era pior.

    Outro aspecto salta aos olhos na narrativa de Tostói: a vida de Ivan Ilitch é medida a partir de sua utilidade [nesse momento, ouço gritos de "modernidade líquida", "Bauman, corre aqui" e "utilitarismo capitalista" vindos de uma plateia que só existe na minha cabeça]. Um de seus amigos mais próximos se preocupa com a possibilidade de ganhar uma promoção quando o cargo de Ivan Ilitch for "desocupado", sua esposa calcula o ordenado da pensão de viúva, sua filha teme que a doença do pai comprometa sua presença nos eventos sociais. Por mais nobre e bem-sucedido que Ivan Ilitch seja, o arrastar de sua vida serve apenas para despertar reações práticas nas pessoas mais próximas - e nenhum tipo de reação nos demais. A respeito disso, Ana Claudia nos alerta:

    Cultivamos a qualidade das nossas relações, e esse cultivo determinará se vamos desfrutar de boas companhias no fim da vida - ou se ficaremos sozinhos.

    Além da apatia dos mais próximos, da dor e da consciência da morte iminente, Ivan Ilitch é assombrado pela sensação de que desperdiçou sua vida. Sua carreira brilhante, seu casamento perfeitamente adequado, seus filhos promissores, o respeito intrínseco ao cargo que ocupa, o melhor círculo social possível, as agradáveis partidas de vint... Nada disso o salvou da sensação de ter perdido tempo, de não ter "vivido direito". 

    [...] começou a relembrar na imaginação os melhores momentos da vida. Mas (o que era estranho) todos esses melhores momentos de sua agradável vida pareciam agora totalmente diferentes do que tinham parecido até então. [...] tudo que então parecera uma alegria passava a derreter diante de seus olhos e transformava-se em algo insignificante e muitas vezes abjeto.

    Não tenho como afirmar, mas sinto que se Ivan Ilitch estivesse sendo acompanhado por Ana Claudia, ela o acolheria dizendo:

    Alguns arrependimentos são puro desperdício de tempo no fim da vida; não faz nenhum sentido que sejam causa de sofrimento. Muitas vezes, escolhemos um caminho que não sabíamos que seria ruim. Agora sabemos e nos arrependemos. [...] Não é justo nos condenarmos por ações passadas baseando-nos no conhecimento que temos agora.

    O acompanhamento médico não tem poder para mudar as escolhas tomadas durante a vida, mas certamente ajuda na elaboração do passado e na aceitação do processo de morte. Enquanto sociedade, ainda estamos longe de construir uma relação esclarecida com esse momento que - de forma antagônica, mas coerente - faz parte da vida. Mas, como Ana Claudia demonstra, existem profissionais empenhados em dissipar as distâncias.

    Um olhar descuidado pode nos levar a crer que esses dois livros versam sobre a morte. Não se engane: o tema central dessas narrativas é a vida. Morrer bem é uma forma de viver bem. Refletir sobre a morte não nos torna imortais, mas tem potencial para nos livrar de sofrimentos emocionais similares aos que Ivan Ilitch experimentou em seus últimos dias. O reconhecimento e o respeito pela morte nos conduzem a uma vida que vale a pena ser vivida.

    Se você gostou do post, considere comprar A morte de Ivan Ilitch e A morte é um dia que vale a pena viver pelos links que estão nesse post. Eles são comissionados, o que significa que eu ganho um pequeno valor por cada compra (tipo revendedora Avon, só que do Jeff Bezos) e você não paga nada a mais por isso. 
    . 25 junho 2022 .

    Em junho de 1976, os Sex Pistols fizeram um show em Manchester. Sem ensaio e sem repertório - já que o primeiro CD da banda só seria lançado cerca de um ano depois - o show foi tão ruim que a plateia, composta por cerca de 40 pessoas, saiu da pequena casa de show inglesa convicta de que conseguiria fazer algo melhor.

    O show medíocre foi o estopim para que Bernard Sumner e Peter Hook decidissem formar uma banda. Eles colocaram um anúncio em um jornal a procura de um vocalista e escolheram Ian Curtis sem ao menos fazer um teste. Meses depois, também por meio de um anúncio, Stephen Morris assumiu a bateria. Em 1978, os quatro rapazes lançaram quatro músicas compiladas em um EP: An Ideal for Living, a primeira gravação em estúdio da banda Joy Division.


    imagem por shelostcontrol-again.tumblr.com

    Em 1979, a Joy Division lançou seu primeiro álbum. Em linhas gerais, o Unknown Pleasures teve um sucesso tardio. Recebido com apatia por grande parte da crítica especializada, o disco ganhou notoriedade a partir dos anos 2000, marcando presença em várias listas como um dos melhores álbuns de todos os tempos. A capa icônica que, a grosso modo, representa a morte de uma estrela captada através de ondas de rádio, ficou popular na internet durante a ascensão do Tumblr, trazendo novos fãs para a banda - que, a essa época, já nasceram órfãos.


    Em 1980, Ian Curtis, responsável pelas letras pessimistas e pela voz rouca que dava o tom melancólico à banda, cometeu suicídio. Como uma forma de premonição bizarra e de péssimo gosto, a capa do segundo álbum da banda - que já estava finalizado quando Curtis faleceu - é composta pela foto de uma escultura presente em um dos jazigos do Cemitério Monumental de Staglieno. Cumprindo o acordo firmado entre os membros, a Joy Division teve fim logo após o lançamento do Closer. No mesmo ano, Bernard Sumner, Peter Hook e Stephen Morris se juntaram a Gillian Gilbert para formar o New Order.

    O New Order rompeu completamente com o estilo musical da Joy Division, se tornando uma das principais bandas de new wave dos anos 80 - gênero que Ian Curtis chamou de "estranho" em sua última entrevista. Mesmo assim, a banda costuma apresentar covers "repaginados" de músicas da Joy Division em seus shows, dando uma entonação mais dançante às composições originalmente soturnas. 

    Porém, ao meu ver (e essa é uma opinião que posso manifestar aqui porque, afinal, este é um blog pessoal), esses covers miram na homenagem, mas acertam no desrespeito. Nesse cover de Love Will Tear Us Apart, por exemplo, o tom da música é tão animado e dançante que soa como se estivessem dançando na cova de Ian Curtis. 

    lápide de Ian Curtis,
    cujo epitáfio é o título da música que o New Order canta com alegria e empolgação

    Pelas entrevistas, podemos perceber que todos os membros remanescentes da Joy Division se recusam a acreditar que Ian Curtis tinha depressão. Peter Hook, por exemplo, é enfático em dizer que ele era uma pessoa feliz, que "estava sempre rindo" e "gostava de piadas práticas", revelando uma visão estigmatizada de uma doença que não era abertamente discutida nos anos 80. Em função disso, os covers feitos pelo New Order tentam passar essa versão alegre de Curtis. Como um usuário do YouTube cirurgicamente apontou, o New order é basicamente uma negação da Joy Division.

    With Joy Division it sounds painful, With New Order it sounds joyful.
    New Order is basically the negation of Joy Division.

    Independente disso, ambas as bandas são responsáveis por influenciar incontáveis músicas contemporâneas. Por isso, um cover da Joy Division com um toque de New Order representaria não só a essência das duas bandas, mas também o impacto que ambas tiveram na cena musical - do pós-punk melancólico ao new wave dançante, do rock inglês ao pop norte-americano.

    22 anos depois...


    A história se repete - de uma forma menos trágica dessa vez. Após assistir a um show do Oasis, Brandon Flowers resolve criar uma banda de rock e conhece Dave Keuning por meio de um anúncio publicado em um jornal. Junto com Mark Stoermer e Ronnie Vannucci, eles formam o The Killers. As influências estão por toda parte: o nome da banda foi retirado de um videoclipe do New Order e seu último disco, Pressure Machine, tem mais referências a Joy Division do que consigo contar - começando pela capa. Por isso, nada mais justo que o The Killers se incumbir da missão de fazer a junção entre essas bandas lendárias.

    Closer (1980) x Pressure Machine (2021)

    Em 2007, a banda participou da trilha sonora do filme Control, que conta a história da Joy Division com foco na trajetória pessoal de Ian Curtis - o roteiro foi inspirado no livro Touching from a Distance, escrito pela esposa de Curtis. De acordo com Brandon Flowers, o diretor do filme pediu que o The Killers fizesse o cover de Shadowplay, sétima faixa do álbum Unknown Pleasures, para "mostrar que o Joy Division havia chegado até quatro crianças do deserto em Las Vegas, a mais de oito mil quilômetros de distância de Manchester". O resultado é uma música que respeita a tristeza da composição original e acrescenta o ritmo new wave sem pesar a mão.


    O lançamento da música veio acompanhado por um videoclipe com cenas do filme Control que mostram alguns dos principais momentos da história da Joy Division: o show dos Sex Pistols, a definição da capa do EP An Ideal for Living, o caderno onde Curtis escrevia suas composições (esse livro tem algumas fotos desse caderno) e vários outros detalhes da história da banda que ficaram de fora desse texto porque, afinal, isso aqui é um recorte. E foi assim que o The Killers conseguiu representar 30 anos de história em um cover.

    Algumas coisas que ficaram de fora do post


    • O famoso show dos Sex Pistols em Manchester é o ponto de partida do filme 24 Hour Party People, que retrata a cena musical de Manchester a partir da visão de Tony Wilson;
    • Tony foi baterista da Joy Division antes de se tornar empresário da banda. Ele também foi empresário do The Smiths e da Happy Mondays;
    • O nome "Happy Mondays" é um trocadilho feito com a música "Blue Monday", do New Order;
    • Morrissey (o controverso vocalista do The Smiths) e Mark E. Smith (vocalista do The Fall) também estavam no show dos Sex Pistols;
    • A depressão de Ian Curtis foi agravada por suas crises de epilepsia, que o impediam de fazer shows e de cuidar de sua filha Natalie;
    • A dança esquisita que Ian Curtis performava nos palcos era uma forma de tentar disfarçar suas crises epilépticas;
    • Deborah Curtis afirma que Ian teve um caso com a jornalista Annik Honoré. Até hoje, Annik nega o fato e afirma que os dois eram apenas amigos próximos #fofoca;
    • A música Colony, quarta faixa do álbum Closer, foi inspirada no livro Na colônia penal, de Franz Kafka;
    . 22 fevereiro 2021 .

    Não importa o quão caricato ou estranho seja, se existe um reality show eu provavelmente vou assistir e gostar. Quem me segue lá no twitter já deve ter me visto comentando algum episódio de Cake Boss, Muquiranas ou Cupom Mania; mas, na verdade, eu assisto muitos outros: Mundo Amish (um dos meus preferidos da vida), Chegou Honey Boo Boo - e os spin-offs, Mama June: Vida Nova e Mama June: Family Crises, 4 Mulheres e 1 Marido), Irmãos à Obra, Ame-a ou Deixe-a e muitos outros. 

    Para quem tem acesso à programação da TV fechada, o cardápio de realitys é gigantesco. Costumo assistir os que passam no TLC e no Discovery Home&Health, mas temos vários outros canais - se você for bem abrangente, dá para considerar que a maior parte da programação do Animal Planet é um reality show da vida animal. Mas, para quem vive no Brasil e só tem acesso à TV aberta a lista é bem mais limitada. A maioria dos realitys se concentram em temas bem batidos, como confinamento (BBB e A Fazenda), culinária (Masterchef e Bake Off Brasil) e música (The Voice, Ídolos e Popstars). Ocasionalmente aparece algo diferente e extravagante, como o Fábrica de Casamentos (vale a pena procurar alguns episódios no YouTube), ou um programa para humilhar pessoas (geralmente pobres), como o Esquadrão da Moda, mas nada muito inovador.

    imagem por @frandreotti

    Vou fazer uma pausa aqui para lembrar do rolê maravilhoso que foi o lançamento da Casa dos Artistas no SBT - facilmente um dos melhores reality shows que já desfilaram na TV brasileira. No desespero para concorrer com o BBB, o senhor Sílvio Santos (que já era idoso naquela época) contratou uma empresa para "dar umas ideias" sobre realitys de confinamento. Aparentemente a ideia era importar algum formato (como a Band fez com o Masterchef, por exemplo), mas o Sílvio deu um golpe na galera: dispensou todos os formatos e não contratou a empresa, mas copiou tudo o que eles apresentaram e fez o próprio programa. O maior trunfo da Casa dos Artistas é que o Sílvio inventava as regras na hora: se uma pessoa que ele gostava fosse eliminada, ele anulava a eliminação. Alexandre Frota chegou a "pular o muro" da casa e fugir do reality, voltando três dias depois como se nada tivesse acontecido. Crème de la crème.

    Enfim, o mundo dos realitys é como um poço sem fundo: você entra e não consegue sair mais. Fica aqui o aviso. Mas se você também pertence ao clube das pessoas que amam perder um tempinho na frente da TV - ou simplesmente deixam um conteúdo leve tocando como plano de fundo enquanto fazem outras coisas - vem comigo porque hoje eu trouxe algumas dicas de reality shows que você pode assistir na Netflix.


    Blown Away (Vidrados)

    Vidrados é uma competição onde dez sopradores de vidro precisam criar obras de acordo com o briefing apresentado pelos jurados. Sim, você não leu errado: sopradores de vidro! Confesso que ri com o mais puro deboche quando descobri esse reality - "soprar vidro? Hahahah olha o desespero da Netflix!". Acabei assistindo "pela piada" e não deu outra: paguei língua! A dicotomia entre a brutalidade das oficinas, o esforço físico que os artistas empregam e a delicadeza das obras de arte é hipnotizante. Os resultados são maravilhosos! Não existem palavras que eu possa usar para transmitir a minha admiração pelas peças que os competidores conseguem criar. Já me peguei várias vezes pensando "ok, quanto dinheiro eu preciso juntar para comprar essa peça?" - e desistindo logo em seguida porque, né? São peças de vidro, provavelmente caríssimas. De longe é o meu programa preferido dessa lista e eu imploro para que você assista!

    Zumbo's Just Desserts 

    Zumbo's Just Desserts entra numa categoria de reality shows que eu amo: programas culinários australianos. O Masterchef Austrália é de longe o meu preferido (abraço pro Marco Pierre White e suas vieiras) e a cara do Adriano Zumbo não me era estranha justamente porque ele costuma fazer algumas participações por lá. A diferença entre o Zumbo's Just Desserts e os outros realitys culinários que focam em sobremesas (como o Sugar Rush, por exemplo) é que os pratos são verdadeiras obras de arte. Cada vez que a colher de algum dos jurados bate na sobremesa, quebrando ela em pedaços comestíveis, meu coração se quebra um pouquinho também (Já deu para perceber que eu sou apaixonada pela estética das coisas, né? #libriana).



    Next in Fashion

    Para te convencer a assistir esse reality eu só preciso citar dois nomes: Alexa Chung e Tan France. Sinceramente não entendo muito de moda, mas foi bem interessante aprender um pouquinho e ver as criações dos competidores (que também seguem um briefing preestabelecido). Ver como as pessoas conseguem se expressar através da moda usando roupas de brechó ou fast fashions já é um passatempo bem divertido, mas garanto que acompanhar todas as etapas de produção e entender o conceito por trás de cada peça é bem mais legal - mesmo para leigos, como eu. Infelizmente a série só tem uma temporada e a Netflix decidiu não produzir uma segunda.

    Floor is Lava (Jogo da Lava)

    Sabe aquele programa de TV que você assiste enquanto joga uma fase de Candy Crush ou vasculha o Twitter à procura de memes? Floor is Lava é esse programa! É uma mistura entre escape room, esse clipe do The Strokes e aquela brincadeira em que as crianças ficam passando de um lugar para o outro sem pisar no chão. A cada episódio, três grupos de três participantes tentam cruzar um ambiente pisando na "mobília", escalando paredes e se pendurando em cordas enquanto um líquido vermelho vai cobrindo as superfícies e deixando o jogo mais difícil. O que mais posso dizer? É simplesmente divertido ver gente escorregando ao tentar pular de cara em uma mesa torta. O reality tem a energia das Olimpíadas do Faustão (e do jogo Fall Guys) e spoiler: tem crossfiteiro perdendo para um grupo de patricinhas que se apresentaram como "especialistas em selfie". Simplesmente perfeito.



    Nailed It! (Mandou Bem!)

    No início da quarentena, as pessoas começaram a cozinhar por hobbie. Algumas se dedicaram e aprenderam a fazer um monte de pratos elaborados e deliciosos, enquanto outras queimaram tudo e renderam conteúdo para a página @chefsnaquarentena. Esse segundo grupo representa muito bem o espírito de Nailed It!, uma competição entre pessoas que gostam, mas não sabem muito bem como cozinhar. A cada rodada, os participantes precisam imitar um bolo, cupcake ou outra sobremesa. O ponto alto de cada uma das rodadas é a comparação entre a expectativa e a realidade. O que eu mais gosto nesse programa é que os apresentadores são muito divertidos e, apesar de rirem muito da bagunça que os participantes fazem, eles sempre encontram pontos positivos para elogiar. Uma fofura.

    The Big Flower Fight (Batalha das Flores)

    Na semana passada, soltei uma "prévia" desse post no instagram e a Andréa comentou lá dizendo que gostou muito de Batalha das Flores. Eu já tinha visto o card desse reality na página inicial da Netflix, mas não dei muita bola... Erro feio, erro rude. É impressionante o que os competidores conseguem fazer com as flores! Eles criam estruturas gigantes, com texturas e cores incríveis e fica até difícil acreditar que tudo ali é feito com plantinhas. Além disso, a dinâmica entre os participantes é linda demais! Apesar da rivalidade intrínseca à competição, eles se ajudam, se apoiam, se admiram... Maratonei todos os episódios no fim de semana e quase morri de fofura a cada episódio. Obrigada pela dica, Andréa

    Espero que vocês tenham gostado do post de hoje e que esses programas deixem o dia de vocês um pouco mais leve, divertido e/ou inspirador. Comenta aqui embaixo se você já assistiu algum dos programas que eu indiquei aqui e qual o seu reality show preferido (aceito dicas!).
    . 10 fevereiro 2021 .

    Mulheres matam: eis um fato que a sociedade parece ter dificuldade em aceitar. Quando se trata de serial killers, isso fica ainda mais evidente. A disparidade entre o tratamento dos assassinos em série pela mídia é notável: enquanto homens recebem grande notoriedade e têm seus nomes perpetuados pelas manchetes (como exemplo, podemos citar Ted Bundy, personagem principal de uma série de produções - incluindo um filme  onde Zac Efron interpreta o assassino); as mulheres recebem apelidos vagos ("a assassina de fulano") e caem no esquecimento após certo período de tempo. 

    Aqui, estamos falando especificamente de assassinas em série. Alguns assassinatos cometidos por mulheres tem notoriedade na mídia à longo prazo, mesmo que essa cobertura seja permeada de estereótipos. Mas, por hora, não vamos entrar nesse assunto. 

    Lady Killers foi publicado com a proposta de mudar esse cenário ao jogar luz sobre catorze casos relacionados a ação de assassinas em série: mulheres que mataram repetidas vezes, com modus operandi e assinatura definidos. Ao abordar assassinatos ocorridos em diversas décadas (Alice Kyteler, uma das mulheres listadas no livro, nasceu em 1263), Tori Telfer mostra que assassinas em série existiam e continuam a existir independente da forma como a sociedade reage a seus crimes. Mas seria isso suficiente para livrar essas mulheres dos estigmas e evidenciar a necessidade de se dar atenção a esses casos?

    Livro: Lady Killers: Assassinas em Série
    Escritora: Tori Telfer
    Publicação: Esse livro foi publicado pela Darkside Books

    Sinopse: Quando pensamos em assassinos em série, pensamos em homens. Mais precisamente, em homens matando mulheres inocentes, vítimas de um apetite atroz por sangue e uma vontade irrefreável de carnificina. As mulheres podem ser tão letais quanto os homens e deixar um rastro de corpos por onde passam — então o que acontece quando as pessoas são confrontadas com uma assassina em série? [...] Lady Killers: Assassinas em Série é um dossiê de histórias sobre assassinas em série e seus crimes ao longo dos últimos séculos [...]. Por que continuamos lembrando apenas de H.H. Holmes quando Kate Bender recebia viajantes em sua hospedaria (e assassinava todos que ousavam flertar com ela)? A linha que divide o bem e o mal atravessa o coração de todo ser humano.

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    Tori começa o livro com um discurso muito bem elaborado acerca da representação simbólica das mulheres assassinas - elas eram retratadas como bruxas cruéis, sedutoras irresistíveis ou como a pura encarnação do mal - e aponta a necessidade de tratarmos esses eventos para além dessas fantasias. Mulheres matam e podem matar mais de uma vez. De fato, elas podem ser tão ou até mais cruéis do que os homens. Quantas assassinas não escaparam da justiça por não se encaixarem no padrão de criminoso que a polícia procura? Quantas vidas poderiam ter sido salvas se nos livrássemos desse estigma? Essa foi minha parte preferida do livro porque, de fato, faz sentido. Os tabus da sociedade frequentemente limitam a liberdade das mulheres e nos colocam à mercê da violência de gênero, mas quantas mulheres não conseguiram se esconder atrás dessa "cortina de fumaça" para praticar seus crimes sem serem capturadas? 

    Cabe ressaltar: não estou dizendo que todas as mulheres utilizam esses tabus a seu favor para cometer crimes ou se safar de situações desfavoráveis. Na prática, a maioria das mulheres sofre violência doméstica, agressão sexual e mais um monte de violências em função dos estigmas associados ao gênero. Entretanto, não podemos negar que, em menor escala e em alguma medida, é muito provável que mulheres tenham conseguido se safar de crimes apenas por serem julgadas fracas demais para cometê-los.

    Deu para entender, né? Não estou dizendo que subjugar mulheres é uma coisa boa. Por favor, não coloque palavras na minha boca - ou no meu teclado. Não faça isso. EU IMPLORO. Se você entendeu que eu disse que a opressão feminina é um benefício, volta os parágrafos e lê outra vez! Não tire a minha fala de contexto!

    Entretanto, a crítica de Tori para por aí. Ela parece ter se esquecido de seu próprio discurso ao adicionar detalhes estigmatizantes e boatos em todos os casos. O capítulo que melhor retrata esse aspecto diz respeito aos crimes cometidos por Kate Bender e sua família. Em função do tempo que se passou entre os assassinatos e a descoberta deles e da ausência de uma confissão (já que nenhum membro da família chegou a ser preso), não há como saber exatamente como os crimes foram executados.  Mesmo assim, Tori baseia todo o texto nas fofocas da época, afirmando que Kate seduzia as vítimas, as matava com golpes na cabeça ou cortes no pescoço e as multilava durante "ataques de fúria". Ao ignorar a ação dos outros membros da família, bem como demonizar e sexualizar a assassina (colocando-a no papel de "sedutora irresistível"), a autora perpétua os maus hábitos outrora criticados por ela mesma.
     
    Entendo perfeitamente que os arquivos que documentam essas histórias provavelmente estão contaminados com a visão fantasiosa da época em que foram produzidos, mas Tori não deixa isso claro na narrativa. Pelo contrário, ela reproduz esse discurso como se fosse uma "verdade quase absoluta". Claro, ela coloca um ou outro questionamento - "será que isso não está exagerado demais?" - mas a linguagem informal e o contraste entre a quantidade de críticas (pontuais) e a quantidade de alegações fantasiosas sobre os crimes cometidos (o resto) suprimem essas críticas.

    Concluo que Lady Killers é um best-seller por falta de opção. Como existem poucos livros acessíveis a respeito de crimes cometidos por mulheres - principalmente se levarmos em consideração a abundância de material a respeito dos serial killers homens - esse material acaba por se tornar "o caminho mais fácil".

    Por mais que eu não tenha gostado da forma como as mulheres e seus crimes são apresentados na narrativa, achei a leitura válida. Procurar conteúdos sobre assassinas em série é uma tarefa difícil - não porque os dados não estejam disponíveis, mas porque raramente temos um norte. Sem um nome, um caso específico pelo qual buscar, acabamos sempre nos deparando com os mesmos 2 ou 3 resultados. E é por isso que acredito que a maior contribuição dessa edição publicada pela Darkside se concentra na Galeria Letal (+14 damas). Esse apêndice exclusivo foi elaborado pelo blog O Aprendiz Verde e contém assassinas em série contemporâneas (cujo modus operandi vai além do envenenamento por arsênico) e casos que ocorreram na América do Sul, ausentes na documentação elaborada por Tori.

    Caso vocês queiram buscar mais informações sobre as 14 mulheres apresentadas por Tori, deixo aqui uma lista com os nomes, anos de nascimento e de morte e os locais de atuação de cada uma delas. Aproveito para recomendar o vídeo "Elizabeth Báthory, a condessa sangrenta", do Nerdologia Criminosos, que responsavelmente possui uma lista de referências que você pode consultar aqui e os episódios do podcast Boo e Outras Coisas que, apesar de serem baseados no livro, não apresentam tantos julgamentos de valor na narrativa.

    • Elizabeth Báthory (1560-1614, Hungria)
    • Nannie Doss (1905-1965, Estados Unidos)
    • Lizzie Halliday (1959-1918, Estados Unidos)
    • Elizabeth Ridgeway (indefinido-1684, Inglaterra)
    • Raya e Sakina (indefinido-1921, Egito)
    • Mary Ann Cotton (1832-1873, Inglaterra)
    • Darya Nikolayevna Saltykova (1730-1801, Rússia)
    • Anna Marie Hahn (1906-1938, Estados Unidos)
    • Oum-el-Hassen (1890-indefinido, Argélia)
    • Tillie Klimek (1876-1936, Estados Unidos)
    • Alice Kyteler (1263-1325, Irlanda)
    • Kate Bender (indefinido - os crimes ocorreram após 1870, Estados Unidos)
    • Criadoras de Anjos de Nagyrév (1914-1926, Hungria)
    • Marie-Madeleine (1630-1676, França)

    Se você já leu Lady Killers, comenta aqui embaixo o que você achou do livro. Estou ansiosa para discutir sobre isso porque a maioria das resenhas que li tinham avaliações muito positivas. E se você gosta de true crime, junte-se ao clube (!) porque pretendo postar mais resenhas de livros dentro desse tema.
    "Tudo na vida pode ser escrito se você tiver a coragem de fazê-lo e a imaginação para improvisar. O pior inimigo da criatividade é a insegurança."
    Os diários de Sylvia Plath: 1950 - 1962